Social
Maria de Lurdes Breu, Esmeralda Souto e Carla Madureira abordaram “O poder no feminino no pós 25 de abril – a igualdade enquanto direito conquistado pela liberdade”
Decorreu na passada semana, a mesa redonda “O poder no feminino no pós 25 de abril – a igualdade enquanto direito conquistado pela liberdade”, na sequência da comemoração do Dia Mundial para a Igualdade, que se assinala a 24 de outubro. A iniciativa foi transmitida pela Rádio Antena Vareira.
Neste encontro de ideias, a Câmara Municipal de Ovar promoveu o debate de “questões importantes, tais como os Direitos Humanos, a Violência Doméstica, a Igualdade Salarial, o Combate à Pobreza, o Acolhimento de Migrantes, a Inclusão de Pessoas com Deficiência e a Igualdade de Oportunidades, pela voz de três mulheres com uma grande intervenção social no Concelho e no país”, explica Ana Cunha, vereadora do Desenvolvimento Social.
Maria de Lurdes Breu, ex-presidente da Câmara Municipal de Estarreja, eleita 5 vezes e estando cerca de 20 anos à frente da autarquia, começa por recordar o convite feito por homens, em 1976, logo após o 25 de abril. “Convidaram-me, mas o que não esperavam era que ganhasse as eleições. As próprias mulheres naquela altura achavam estranho que outra mulher ocupasse um espaço para homens”. Numa altura em que as mulheres tinham que pedir autorização aos homens para viajar, relembra, “ouvi algumas vezes, porque é que a senhora não vai para casa coser meias?”. No que toca à condição da mulher na esfera da política, a ex-autarca reforça que após a fase em crescendo, “atualmente estamos a assistir a um retrocesso, vejo as mulheres mais retraídas em querer participar na política”.
Esmeralda Souto, que ocupou o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Ovar durante 12 anos, foi a primeira mulher a ser presidente de junta no distrito de Aveiro e a primeira mulher a participar na Assembleia Municipal de Ovar. Apesar de ter vivido quase metade da sua vida em ditadura, com intervenção política e social intensa, antes e pós 25 de abril, diz continuar a acreditar na liberdade. “Mas só porque tenho liberdade, não me posso esquecer da igualdade e do companheirismo. Eu nunca lutei muito contra os homens, sempre tive os homens a apoiar-me, porque eu também me impunha. As mulheres são respeitadas quando se impõem e mostram que são capazes.” Professora reformada, ainda está ligada à causa social e ao associativismo do Concelho de Ovar e deixa uma mensagem aos mais novos, “mesmo ao nível da juventude ainda se vê a diferença na igualdade de género, que tem que ser combatida por mulheres e homens”.
Carla Madureira, deputada na Assembleia República, Presidente da Assembleia de Freguesia Esmoriz e membro da Coordenação Nacional das MSD – Mulheres Sociais Democratas, recorda que apesar de já ter nascido em liberdade, 47 anos depois dessa conquista, a igualdade ainda é um tema que está na ordem do dia. “Não estamos a falar só de igualdade política, senão fosse a lei da paridade nas autárquicas, as mulheres tinham ainda muito mais dificuldade em ter o seu lugar. Estamos a falar de igualdade de salários, uma discussão que tem que continuar a ser promovida também pelos homens, de igualdade na educação, recorde-se que há mais mulheres licenciadas em Portugal do que homens”, sendo esse o resultado do empoderamento feminino. A deputada abordou ainda temas como o flagelo da violência doméstica, que tem as mulheres como principais vítimas, e a igualdade nas relações, “ao lado de um grande homem está sempre uma grande mulher, assim é que é o ditado popular”.
As três convidadas partilham a ideia de esta ser uma temática com base cultural e que deve ser trabalhada e falada no seio familiar, de pais para filhos. À luz da conversa foi feita referência às iniciativas promovidas pela Câmara Municipal de Ovar no sentido de promover os valores da igualdade e a participação cívica, desde tenra idade, tais como o Orçamento Participativo Escolar, que não premeia géneros, mas sim ideias, projetos, direitos e deveres.